A importância de D. Pedro II no cálculo astronômico da distância Terra-Sol

Imagem: D. Pedro II observando Vênus (domínio público)

Quando Jô Soares escreveu o romance Xangô de Baker Street, ele uniu sua capacidade criativa ao rigor histórico, aproveitando a fama mundial de D. Pedro II, uma das pessoas mais cultas, inteligentes e amantes das ciências do final do século 19. Mas sequer seria preciso inventar nada para descrever o papel do imperador brasileiro em uma das maiores façanhas da astronomia. Astrônomo amador, grande incentivador do desenvolvimento dessa ciência no Brasil, D. Pedro II foi fundamental para, em 1882, apurar a distância entre a Terra e o Sol, uma das medidas mais importantes para a astronomia.

A definição dessa medida sempre foi um enorme desafio para os cientistas de todo o mundo, pois, a partir dela, é possível calcular as distâncias para outras estrelas. Ainda no século 18, Edmond Halley, aquele mesmo que descobriu o famoso cometa, teorizou que seria possível calcular essa distância durante os chamados “trânsitos de Vênus”.

Bem raro, ocorrendo umas duas vezes por século, esse fenômeno é a passagem do planeta Vênus na frente do Sol, do ponto de vista da Terra. Trata-se na verdade de um micro eclipse, já que Vênus consegue apenas provocar um pequeno ponto escuro no disco solar.

Assim, um grande alvoroço tomou conta da comunidade de astrônomos à medida que se aproximava o 6 de dezembro de 1882, quando um mundo dotado de telescópios e outros equipamentos mais avançados, poderia assistir novamente ao famoso trânsito de Vênus. Cientistas de todos os países montavam equipes espalhadas pelo globo para observar o fenômeno e calcular com maior precisão a distância entre Terra e Sol, na época estimada em 151,7 milhões de km.

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A comunidade de astrônomos sabia que o Brasil era um dos pontos privilegiados para essa observação e pediu o envolvimento do país na campanha internacional. Animado e disposto a mostrar ao mundo a capacidade dos cientistas brasileiros, D. Pedro II montou uma estratégia ousada, já que era preciso garantir que haveria visibilidade no dia 6 de dezembro. Além dos cientistas no Imperial Observatório do Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão e vizinho ao Palácio Imperial, seriam mandadas equipes para Olinda, Ilhas Virgens, no Caribe, e Punta Arenas, no sul do Chile.

A decisão mostrou-se acertada, já que, no dia 6, as nuvens atrapalharam a visão de quem estava no Rio, Recife, Olinda e nas Ilhas Virgens. Mas a equipe de Punta Arenas conseguiu um enorme êxito. O resultado dos cálculos dos cientistas brasileiros foi apresentado pelo próprio D. Pedro II na Academia de Ciências de Paris: 149,4 milhões de km, um número apenas 0,1% menor do que o aferido hoje por técnicas modernas (149.597.870,7 km).

Por toda a sua contribuição à investigação do espaço sideral, o Dia da Astronomia no Brasil celebra-se a 2 de dezembro, data de nascimento de D. Pedro II.

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