Como identificar, monitorar e tokenizar dados biofísicos por georreferenciamento?

Arquivo pessoal Marlos Batista

Marlos Batista, diretor executivo de sustentabilidade do Grupo Imagem, explica como a base de conhecimento fornecida pelo SIG contribui para a criação de políticas ambientais eficazes, permitindo uma melhor compreensão das características naturais e a priorização de ações que promovam a redução do desmatamento, proteção da biodiversidade, recuperação de ecossistemas e produção de dados biofísicos.

Batista também aborda a aplicação do SIG na avaliação e mitigação dos impactos das mudanças climáticas em áreas urbanas e rurais, exemplificando com a recente tragédia no Rio Grande do Sul, bem como a contribuição do Grupo Imagem para evitar fraudes no mercado de crédito de carbono, utilizando georreferenciamento e tokenização para garantir a integridade e transparência dos créditos de carbono. Conheça as principais partes de sua entrevista a Geocracia.

Quais são os principais desafios na integração de SIG para monitoramento e gestão de recursos naturais, como água e florestas, e como essas tecnologias podem apoiar políticas de conservação ambiental e práticas de uso sustentável?

É preciso começar essa pergunta colocando primeiro na mesa quais são as bases para o estabelecimento de políticas e práticas. Quando colocamos qualquer medida ou instrumento que vá criar uma agenda de incentivo, de comando e controle ou de regulação, todas elas precisam estar pautadas em alguma base de conhecimento. Seja ela uma representação daquilo que está estabelecido dentro dos nossos códigos, como a Constituição Federal, o Código Ambiental ou outras portarias e formatações legais que temos, antes de tudo, é preciso ter o entendimento das características do espaço e do ambiente.

Se falamos de políticas que vão promover a redução do desmatamento, evitar a degradação de vegetação nativa ou ampliar as áreas de proteção de biodiversidade, ou ainda áreas protegidas ou conservação de espécies, estamos falando de proteção e recuperação de biodiversidade. O primeiro passo de entendimento é saber onde esses fenômenos acontecem. Se vamos falar de proteção de biodiversidade, estamos falando de qual parcela do território, se protegida, terá o maior resultado biológico possível. Existem parcelas onde a mesma quantidade de esforço de ação dará retornos diferentes. Regiões próximas de áreas extremamente degradadas, se recuperadas, tornam o ecossistema muito mais saudável.

No processo de decisão, se eu vou plantar uma determinada cultura numa região, qual é aquela que terá a melhor resposta, produzindo com mais qualidade e quantidade? A mesma lógica se aplica à biodiversidade. Existem regiões que podem influenciar positivamente outras e elementos da natureza que beneficiam outros ecossistemas. Se eu quero criar um corredor ecológico para fazer conectividade de espécies, qual região dará o melhor retorno? Qual tem maior relevância biológica e qual ação dará o maior retorno em consistência ecossistêmica?

Qualquer decisão hoje precisa ser baseada em dados e ciência. Conseguimos, de forma consistente, levantar um conjunto de informações técnicas associadas às características naturais. Com posse disso, fazemos as perguntas necessárias para obter as respostas mais promissoras. Olhando essa base de dados e os fenômenos acontecendo, rodando modelos específicos baseados na natureza, identificamos qual região tem o maior potencial de provimento de serviços ecossistêmicos de forma ampla, considerando aspectos ambientais, ecológicos e econômicos.

O SIG é o instrumento que concentra essas informações. Estendo a visão do SIG como uma plataforma com informações geoespaciais, permitindo um entendimento razoável das características naturais e ambientais. Com base nisso, temos entendimento e priorização da agenda, sabendo quais precisam ser tocadas e quais podemos criar uma agenda de desenvolvimento sustentável ou práticas sustentáveis, beneficiando tanto a sociedade local quanto, por exemplo, características de redução de emissões atmosféricas.

Acabamos de vivenciar uma grande tragédia no Rio Grande do Sul, com enormes prejuízos. De que maneira o SIG pode ser utilizado para avaliar e mitigar os impactos das mudanças climáticas em áreas urbanas e rurais, e como essas avaliações podem influenciar a elaboração de políticas públicas e estratégias de adaptação?

O SIG (Sistema de Informação Geográfica) pode ser utilizado para mitigar os impactos em áreas urbanas e apoiar na elaboração de medidas de prevenção e adaptação. Através do levantamento de informações associadas ao ambiente, é possível identificar zonas de risco e cruzá-las com previsões meteorológicas, dados sociais e informações de infraestrutura.

Com essas informações, é possível ter um entendimento claro das vulnerabilidades e exposições que podem ser afetadas por desastres naturais, como inundação e deslizamento de terra. Com base nesse entendimento, podem ser tomadas ações de contenção, como a criação de piscinões, diques e sistemas de bombeamento.

Além disso, o SIG permite a integração de dados de diferentes áreas, como educação, defesa civil, desenvolvimento econômico, infraestrutura, saúde e segurança pública, possibilitando uma resposta mais ampla e uma divisão de papéis dentro da agenda de governança. A interpretação desses dados e cenários ajuda na priorização da agenda de investimentos e na definição de políticas públicas.

Diante da Operação Greenwashing, muito tem sido debatido no Brasil, nas últimas semanas, de que o caos fundiário teria o potencial para matar o mercado de crédito de carbono no país. O que o Grupo Imagem tem feito para contribuir para evitar este cenário por meio do SIG?

Vou voltar à visão de plataforma e expandir um pouquinho o conceito, mudando de SIG para uma visão de plataforma de dados geográficos. A plataforma com dados geoespaciais tem a capacidade de integrar outras plataformas, o que facilita a construção de aplicações.

Recentemente, vimos na mídia uma operação de fraude no mercado de carbono, estimada em mais de 1,6 bilhões. Um grande problema é a falta de lastro seguro para os créditos de carbono, semelhante ao mercado financeiro onde a riqueza era medida por reservas de ouro. Hoje, nos mercados digitais, o lastro é formado por elementos de integridade econômica.

A empresa tem a capacidade de identificar, monitorar e tokenizar dados biofísicos, como a quantidade de carbono, utilizando sensoriamento remoto e outros dispositivos. Essas informações são convertidas em dados econômicos, permitindo uma avaliação precisa da origem dos créditos de carbono e monitoramento contínuo da região.

Procedimentos de detecção de mudanças nos permitem avaliar a dinâmica da região, seja por aumento na remoção de carbono ou por supressão de vegetação. Com o uso de dispositivos de tokenização, conseguimos criar tokens geoespaciais que oferecem segurança ao mercado, evitando fraudes e garantindo a integridade dos créditos de carbono.

Apesar do caos fundiário, a tecnologia de tokenização geoespacial temporal garante uma análise contínua e segura, mitigando problemas como a venda fraudulenta de terrenos. Isso evita a repetição de golpes semelhantes ao “terreno na lua”, garantindo a segurança e transparência do mercado de carbono.

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