O Brasil enfrenta uma crise silenciosa de dados meteorológicos: a rede de observação perdeu capilaridade, séries históricas foram descontinuadas e persistem “zonas cegas” sem cobertura adequada. Esse problema, debatido nesta terça-feira (7) em Vitória (ES), em evento moderado pela engenheira ambiental Nanci Walter, presidente do Crea-RS, reduz a precisão de alertas, fragiliza mapas de risco e encarece decisões de infraestrutura, exatamente quando cresce a demanda por informação confiável para conviver com chuvas intensas, estiagens e ondas de calor.
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A espinha dorsal da previsão — radares, estações pluviométricas, sensores remotos, modelos numéricos, imagens de satélite e GIS — funciona como um sistema integrado. Quando um elo falha ou fica desatualizado, todo o ecossistema perde desempenho: diagnósticos de áreas sujeitas a alagamentos ficam menos precisos, planos diretores e obras de drenagem se baseiam em premissas frágeis e a resposta da defesa civil perde tempo e eficácia.
Não se trata apenas do aumento de eventos extremos, mas de gestão e continuidade. Manutenção regular, calibração, padronização de formatos, equipes estáveis e validação de dados de campo são rotinas que sustentam a qualidade dos produtos meteorológicos. Sem previsibilidade orçamentária e governança clara, a rede vira um mosaico irregular, com ilhas modernas cercadas por vazios de informação.
Há caminhos pragmáticos para reverter o quadro. Priorizar a recomposição da rede observacional em regiões descobertas, atualizar radares e estações críticas, integrar bases existentes e adotar padrões abertos de dados criam ganhos rápidos. Interoperabilidade entre centros, universidades, defesas civis e concessionárias de serviços amplia o uso público da informação e reduz redundâncias.
A agenda mínima é objetiva: ampliar cobertura, garantir operação contínua, publicar dados em tempo quase real e treinar equipes locais para transformar números em serviço. Com séries consistentes e infraestrutura mantida de forma regular, o país diminui incertezas, planeja melhor e oferece orientações mais claras à população — sem alarde, mas com resultados mensuráveis.
ISSN 3086-0415, edição de Luiz Ugeda.

