Marcelo Barros, no site Defesa em Foco, disse que a geopolítica do século XXI já não cabe no mapa tradicional: além de terra, mar e ar, dois domínios tornaram-se decisivos — o espaço sideral e o ciberespaço. A leitura ecoa os clássicos de Mackinder e Spykman, mas desloca o foco para órbitas e redes, onde comunicação, navegação e dados definem vantagem estratégica. Quem controlar esses ambientes condiciona fluxos financeiros, cadeias logísticas, inteligência militar e, em última instância, a capacidade de projetar poder no sistema internacional.
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No espaço, a economia e a defesa dependem de satélites de comunicação, observação e posicionamento. A competição por órbitas baixas (LEO) e posições geoestacionárias, somada a testes de armas anti-satélite e técnicas de interferência, abriu um ciclo de dissuasão e vulnerabilidade: constelações proliferam, mas o risco de detritos, cegueira temporária de sensores e degradação de serviços críticos cresce. Fala-se, com razão, em “Heartland orbital”: a superioridade em órbitas concede primazia em comando e controle, alerta antecipado, vigilância e sincronização de sistemas civis e militares.
No ciberespaço, a disputa é contínua e pouco visível. Ataques a cadeias de suprimentos digitais, ransomware contra hospitais e municípios, espionagem industrial e campanhas coordenadas de desinformação expõem um campo de batalha de baixa assinatura e alto impacto. A governança passa por normas técnicas, cooperação internacional, resiliência de infraestruturas críticas e capacitação de pessoal. Não é exagero tratá-lo como um “Rimland digital”: quem domina as bordas onde dados circulam — cabos submarinos, pontos de troca de tráfego, nuvens e dispositivos — influencia narrativas, mercados e decisões.
Para o Brasil, as lições são diretas. No espaço, consolidar capacidades próprias de sensoriamento, telecomunicações e navegação de precisão reduz dependências externas e aumenta autonomia decisória; parcerias tecnológicas e salvaguardas de Alcântara precisam ser combinadas com uma política industrial de longo prazo. No ciberespaço, fortalecer equipes de resposta a incidentes, proteger redes de energia, finanças, saúde e governo, e adotar padrões de segurança por desenho — com auditoria, criptografia e redundância — é caminho imediato. Inteligência artificial confiável e formação contínua de quadros completam a agenda.
O mapa do poder está a mudar. Espaço sideral e ciberespaço deixaram de ser “cenários” para se tornarem territórios estratégicos onde se decide competitividade econômica, segurança nacional e influência diplomática. Se quiser preservar soberania e relevância, o Brasil precisa olhar além da floresta, do mar e do sertão — e ocupar, com estratégia e investimento, os heartlands invisíveis que moldarão o futuro.
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ISSN 3086-0415, edição de Luiz Ugeda.

