Por um plano diretor com mapa dinâmico

Luis Henrique Villanova*

Estive pensando essa semana sobre qual assunto eu poderia abordar nesta coluna, e a ideia ocorreu quando, justamente, chamei o aplicativo de transporte Uber para realizar certo deslocamento. Quando entrei, o motorista colocou o GPS do trajeto na tela do veículo e no celular, geralmente plugado em algum suporte, ficou ligado na tela o aplicativo mostrando o mapa da dinâmica naquele momento.

Para os que não sabem o que significa a dinâmica do Uber, é um sistema de tarifas mais altas demonstrado no mapa da cidade em locais com alta demanda por corridas e baixa disponibilidade de motoristas. O objetivo é que quando a demanda está muito alta, os preços aumentem para que haja mais motoristas disponíveis para atender todas as chamadas.

Foi bastante interessante observar a movimentação da demanda para viagens do aplicativo ao longo do território. Portanto, me ocorreu a ideia de escrever sobre a possibilidade de existir um plano diretor dinâmico. Tal qual a dinâmica de corridas do aplicativo do Uber.

Imaginemos um plano diretor que não seja somente revisado a cada 10 anos, mas esteja em constante mudança, ou melhor, com ajustes sendo feitos constantemente. Uma adaptação seguindo o cruzamento de dados entre a demanda local e a infraestrutura disponível. É possível imaginar?

No território urbano, todos têm direito de construir uma vez a área do terreno, exatamente como já acontece em São Paulo, Belo Horizonte e outras tantas cidades. A diferença é que, nos locais onde houver demanda e infraestrutura disponível, poderá ser permitido construir, mediante outorga, o que for necessário para esgotar a disponibilidade desse cruzamento entre demanda e infraestrutura. Não mais sendo regulado por coeficientes máximos que não possam ser ultrapassados.

Quem disponibilizará essas informações de infraestrutura e demanda é o próprio órgão do planejamento da cidade, em plataformas como o GeoSampa de São Paulo, a partir do mapa dinâmico do plano diretor local. Desse modo, assim que esgotar a infra e demanda de determinada quadra ou região, o mapa dinâmico elaborado por dados obtidos “abrirá”, ou seja, disponibilizará novos quarteirões ou regiões para suprir tais demandas e assim sucessivamente, em movimentos sincronizados.

É claro que esse mapa não seria fielmente igual ao do Uber, que é atualizado a cada minuto ou a cada hora. Porém, em meses, já haveria movimentações da dinâmica em determinadas regiões da cidade e o mercado/crescimento construtivo estaria se adaptando conforme o movimento de disponibilidade e oferta.

Pois bem, sei que não é simples como descrevi e que imensos estudos deverão ser realizados para pôr em prática uma ideia como esta, mas o fato é: o mapa do planejamento de crescimento de uma cidade não pode mais ser realizado por manchas estáticas revisadas a cada 10 anos e, muito menos, numa visualização de planta baixa. Com toda a tecnologia de obtenção de dados disponíveis para os planejadores, é preciso mudar urgentemente esse modo de planejar uma cidade, pois qualquer urbe de qualquer tamanho não é estática, mas sim dinâmica.

  • Mestre em Arquitetura e urbanismo (Uniritter/Mackenzie); Doutorando em arquitetura (PROPAR/UFRGS); Membro do Council on Tall Building and Urban Habitat (CTBUH). (luishbv@gmail.com)

Por Caos Planejado

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