– Guilherme da Costa Ferreira Pignaneli*
Uma nova forma de sequestro de carbono tem ganhado destaque no mercado: a remineralização do solo. A prática, que recentemente passou a ser aplicada no Brasil por meio de uma parceria entre duas startups estrangeiras — a alemã InPlanet e a americana Terradot — em colaboração com agricultores brasileiros, tem atraído atenção ao gerar créditos de carbono a partir da aplicação de pó de rocha nas lavouras.
A agricultura brasileira, embora esteja entre as mais produtivas do mundo, apresenta uma forte dependência de fertilizantes importados (NPK – nitrogênio, fósforo e potássio). O potássio é o insumo mais crítico, com cerca de 95% da demanda suprida por Rússia e Belarus.
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Nos últimos anos, a guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia e Belarus impactaram diretamente o mercado de fertilizantes, provocando forte disparada nos preços. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos, em meio a disputas comerciais, aplicaram tarifas e barreiras sobre determinados insumos, aumentando ainda mais a pressão no mercado internacional. Essa combinação trouxe incertezas para o Brasil e elevou de forma significativa os custos da produção agrícola — em que os fertilizantes representam, em média, 20% a 30% do custo total da lavoura.
Assim, a remineralização surge não apenas como alternativa estratégica para reduzir a dependência de insumos importados, mas também como uma solução ambiental de alto impacto. Além de contribuir para a saúde e fertilidade do solo a baixo custo, a técnica promove o sequestro de carbono, fixando-o de forma estável no solo. Essa inovação vem conquistando espaço frente aos métodos mais tradicionais de mitigação climática, como a conservação florestal via REDD+ ou o reflorestamento. Nesse caso, o carbono deixa de ser estocado apenas pelas árvores e passa a ser absorvido e armazenado diretamente pelo solo, abrindo caminho para uma agricultura mais sustentável e resiliente às mudanças climáticas.
Cientificamente, esse processo recebe o nome de intemperismo. O intemperismo é o processo natural de desgaste e transformação das rochas e minerais quando expostos às condições da superfície terrestre, como variações de temperatura, ação da água, vento, organismos vivos e reações químicas. Ele pode ser físico (fragmentação mecânica, como rachaduras e erosão), químico (reações que alteram a composição, como a dissolução de minerais pelo ácido carbônico da chuva) ou biológico (raízes de plantas e microrganismos liberando substâncias que quebram as rochas). Um exemplo clássico é a reação do dióxido de carbono (CO₂) com minerais de silicato ou carbonato, que resulta na formação de novos minerais estáveis e no armazenamento de carbono em solos e águas permanentemente, retirando-o da atmosfera.
Por isso que o manejo de rocha moída quando realizado adequadamente intensifica o processo natural por meio do que se chama de intemperismo acelerado, processo que é beneficiado pelo clima tropical brasileiro, onde há radiação solar intensa, bem como índices de chuvas elevados.
O intemperismo acelerado, portanto, ocorre quando há aplicação tecnológica desse processo natural em escala controlada e intensificada para capturar carbono. Em vez de esperar que minerais como olivina, basalto ou serpentinito reajam lentamente com o CO₂ atmosférico, a técnica busca aumentar a superfície de contato (triturando rochas), espalhá-las em solos agrícolas ou áreas costeiras, e criar condições favoráveis para que a reação química aconteça mais rapidamente. Essa abordagem é vista como uma solução de remoção de carbono de longo prazo, já que transforma CO₂ em minerais estáveis, mas ainda está em fase de testes para avaliar viabilidade econômica, impactos ambientais e potencial de aplicação em larga escala.
Diante desse cenário, a remineralização do solo por meio do uso de pó de rocha representa mais do que uma inovação agrícola: é uma oportunidade estratégica para o Brasil reduzir sua vulnerabilidade externa, fortalecer a segurança alimentar e ainda se posicionar como protagonista na agenda climática global. Ao unir ganhos econômicos — com menor dependência de fertilizantes importados — a benefícios ambientais de longo prazo, o intemperismo acelerado desponta como um caminho promissor para uma agricultura de baixo carbono, capaz de aliar produtividade, sustentabilidade e resiliência em um mundo cada vez mais marcado por crises geopolíticas e climáticas.
* Sócio no escritório Ernesto Borges Advogados. Autor do livro “Análise Econômica da Litigância”. Graduado pela PUC-PR Especialização LLM em Direito Empresarial FGV/RIO; Mestre em Direito Econômico e Socioambiental PUC/PR.
ISSN 3086-0415, produção de Luiz Ugeda.

