Amanda Chiamenti Both, no Café História, discute como a renomeação de lugares e mapas tem tido centralidade na estratégia política de Donald Trump. Durante a posse de seu segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos anunciou sua intenção de mudar o nome do Golfo do México para Golfo das Américas, justificando a decisão com um suposto aprimoramento estético. Embora essa declaração possa parecer superficial, a prática de alterar toponímias carrega implicações políticas e estratégicas profundas, uma vez que os mapas são expressões do poder estatal e territorial.
A história demonstra que a renomeação de espaços geográficos sempre esteve ligada a projetos políticos e de domínio. No século XVIII, Portugal instruiu seus cartógrafos a alterar nomes de locais na América durante a demarcação de fronteiras com a Espanha, reafirmando sua ocupação territorial. Essa estratégia segue uma lógica recorrente: a cartografia não apenas descreve o território, mas também o constrói simbolicamente, legitimando soberanias e narrativas históricas.
A tentativa de Trump de reformular a toponímia não passou sem contestação. A presidenta mexicana, Claudia Sheinbaum, rebateu a iniciativa ao exibir um mapa de 1607 onde os territórios dos atuais Estados Unidos aparecem como “América Mexicana”, mostrando que os mapas são instrumentos de disputa simbólica e a cartografia pode ser mobilizada tanto para imposição política quanto para resistência.
A polêmica se ampliou com a adesão do Google Maps à nova nomenclatura nos Estados Unidos, adotando “Golfo da América” para usuários locais. A postura da empresa gerou debates sobre a neutralidade das plataformas digitais na mediação de disputas geopolíticas, evidenciando como a informação geoespacial pode ser utilizada para reforçar narrativas nacionais. Ao manipular a percepção de espaços geográficos, Trump insere sua política de “Make America Great Again” no cerne da representação cartográfica global.
Outro episódio relevante foi a reversão da decisão de renomear o Monte McKinley para Denali, um nome de origem indígena restaurado durante o governo Obama. A medida de Trump ignorou reivindicações históricas das comunidades locais e reforçou sua proximidade com políticas de expansionismo e nacionalismo, alinhando-se à tradição de exaltação dos líderes políticos norte-americanos do século XIX.
A discussão sobre a renomeação de lugares e a manipulação da cartografia renova a força dos mapas como construções sociais e políticas, e não meras representações neutras da realidade. Em um mundo de comunicação digital acelerada, a disseminação de mapas sem contextualização pode reforçar discursos extremistas e legitimar projetos políticos controversos. O uso da cartografia como instrumento de poder exige uma análise crítica constante, pois as disputas pelo espaço também são disputas pelo significado.
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